quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Teatro na ribalta




Fotos: Filipe Mamede


Quem vem do bairro das Rocas ou quem desce da Cidade Alta não tem outro jeito, senão contemplar o secular Teatro Alberto Maranhão, monumento tombado pelo Patrimônio Histórico e Artístico do Rio Grande do Norte. Inaugurado um ano antes da chegada das luzes de acetileno que iluminariam as ruas do bairro da Ribeira em 1905, o teatro teve outro nome de batismo. De 1904 a 1957, o teatro levava o nome do maestro e compositor de O Guarani, Carlos Gomes.

A concepção do teatro conserva, até hoje, linhas e elementos da arquitetura francesa do final do século XIX, além de cerâmica belga como revestimento do piso de entrada e da platéia. Obedecendo a planta do engenheiro José de Berredo, no Governo Ferreira Chaves, sob a direção do Major Theodósio Paiva, a construção teve início em 1898, e se deu simultaneamente a outros no Brasil: o Teatro Amazonas em Manaus é de 1896; o Teatro Municipal do Rio de Janeiro foi inaugurado em 1909; o Teatro José Alencar, em Fortaleza, iniciou as atividades em 1910; e o Teatro Municipal de São Paulo começou a funcionar no ano seguinte. Eles assumiam a função de vitrine cosmopolita para as novas elites.

Em 1910, o Carlos Gomes, como era chamado àquela época, guardava a forma de chalé, com 18,30 metros de largura por 78,60 de extensão, tendo três portas e uma escultura de Mathurin Moreau, denominada “arte”, encimando a fachada. No segundo Governo de Alberto Maranhão, o Teatro passou por uma nova reforma, sendo alvo de críticas por parte do jornal Diário de Natal, que apontava a falta de sensibilidade dos governantes, afirmando que o governador só tinha olhos para a sua grande obra, o teatro, consumindo nele, recursos desmedidos, enquanto os flagelados padeciam as misérias da seca, que se prolongava desde 1902.

Mesmo criticado, a casa de espetáculos acabou ganhando um pavimento superior, portões e grades de ferro vindas da França (Fundição Val de Osnes), assim como os balcões e obras de arte na fachada. A Gran-Campañia Española de Zarzuela, Opera y Opereta Pablo López reinaugurou o teatro no dia 19 de julho de 1912 com a opereta “Princesa dos dólares” de Leo Fall. Em 1957, sendo o Teatro da municipalidade, o Prefeito de Natal, Djalma Maranhão, mudou a sua denominação para Teatro Alberto Maranhão – TAM.

Sobre a mudança de nome, o teatrólogo Meira Pires, diretor do TAM de 1952 a 1982, ano de sua morte, disse o seguinte: “Alberto Maranhão não podia permanecer relegado a um esquecimento total. Esse o motivo da batalha gloriosa para dar seu nome à casa de artes que ele construiu, movimentou e amou como um novo Romeu”. Em 1955, o teatro, ainda com o nome de Carlos Gomes, foi palco do 1º Festival de Teatro Amador, “certame idealizado pelo teatrólogo Meira Pires, comemorativo à reabertura do teatro e do qual participaram os Estados da Bahia, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará”. Poucos anos depois, Meira Pires, de 10 a 20 de outubro de 1958, realizou o 1º Congresso Brasileiro de Teatro Amador. Na ocasião foi fundada a Sociedade Nacional do Teatro Amador – SONATA, sob o patrocínio do Ministro da Educação e Cultura Clóvis Salgado e do Governador Dinarte Mariz de Medeiros.

Em 1959, ainda no governo de Dinarte Mariz, o teatro foi reformado integralmente, com obras do engenheiro Wilson de Oliveira Miranda, sendo reaberto em 24 de março de 1960. No dia 11 de março de 1977, a Orquestra Sinfônica do Rio Grande do Norte estreou no palco do TAM, bem como o sistema de ar condicionado central. Pouco mais de uma década depois, a Fundação José Augusto, presidida pelo jornalista Woden Madruga, iniciou, em junho de 1988, uma nova reforma contando com o apoio da Fundação Nacional de Artes Cênicas e a Fundação Banco do Brasil. Nesse reparo foram incluídos camarins, salão nobre, jardim, platéia e palco, buscando restaurá-lo sob supervisão técnica da Coordenadoria do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado.

Em 2004, por ocasião do centenário do Teatro Alberto Maranhão, uma nova reforma foi realizada. Esta obra deu ao TAM uma melhor acessibilidade, já que foram construídas rampas da rua para a praça, da praça para o Teatro e também nas entradas dos banheiros. Além disso, um moderno sistema de climatização foi implantado, sendo instalados condicionadores de ar nas platéias, salas administrativas e salão nobre. Também foi feita uma nova pintura no teatro e restaurados a iluminação, o piso, o mosaico e o mobiliário original. O pátio interno foi ampliado e seu piso trocado. O prédio ganhou um novo café, loja e banheiros. O salão nobre e hall de entrada foram revitalizados e toda infra-estrutura do teatro foi restaurada. Para Hilneth Correia, atual diretora do Teatro Alberto Maranhão, “os sons, as letras, as cores, os movimentos, e os gestos, são presenças vivas nessa casa”.